PRÁTICAS DO ABORTAMENTO INSEGURO NA PERSPECTIVA DA MULHER AMAZÔNIDA: “JÁ CHAMARAM A POLÍCIA?”
DOI:
https://doi.org/10.17564/2316-3801.2023v10n1p303-316Abstract
O aborto é um grave problema de saúde pública no Brasil com registros anuais em média de 230 mil internações no Sistema Único de Saúde. São recorrentes os relatos de discriminação, ameaças, julgamento e violação da privacidade nas maternidades. O objetivo do estudo foi compreender a percepção da mulher no processo de abortamento inseguro na assistência da equipe de saúde em uma maternidade pública de referência em Manaus-AM. Trata-se de um relato de caso único, qualitativo e descritivo, por meio de entrevista via Google Meet. A participante foi uma mulher, 26 anos, preta, baixa renda que passou pelo processo de abortamento inseguro e buscou cuidados em uma maternidade pública de Manaus-AM. Foram utilizados os seguintes instrumentos: roteiro semiestruturado e um gravador de voz. Os dados foram avaliados através da análise de discurso de Michel Pêcheux. Foi constatado que os sentimentos registrados demonstraram a vulnerabilidade física e psicológica da mulher no contexto do abortamento inseguro. As condutas dos profissionais foram percebidas como inadequadas, discriminatórias e desumanizadas. A assistência de qualidade deve ofertar ambiência, acolhimento, manejo correto da dor, diálogo e orientação em prol da saúde sexual e reprodutiva. Essa percepção negativa corrobora com elementos que sinalizam a repetição do padrão de atendimento inadequado encontrado em outras regiões do país. Portanto, recomenda-se que é necessário um amplo debate sobre a oferta de uma assistência humanizada que atenda integralmente as necessidades e direitos da mulher amazônida no processo de abortamento.